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8Quadro Clínico

Publicado: Terça, 13 de Agosto de 2019, 21h33 | Última atualização em Domingo, 18 de Agosto de 2019, 19h26 | Acessos: 24

VIII - Doenças Inflamatórias Intestinais - Retocolite Ulcerativa Idiopática

Forma correta de citar esta página:

COSTA E SILVA, I.T. Doenças Inflamatórias Intestinais: Retocolite Ulcerativa Idiopática - Quadro Clínico. Módulos de Coloproctologia. Disciplina de Cirurgia do Sistema Digestório, Órgãos Anexos e Parede Abdominal (CISDOAPA). Universidade Federal do Amazonas. Disponível em: <https://cisdoapa.ufam.edu.br/modulos/coloproctologia/modulo-viii/quadro-clinico-8.html>. Acesso em: 16/8/2019.
Quadro Clínico

   Os principais sintomas da RCUI compõem-se de crises intermitentes de disenteria (com muco, pus e sangue nas fezes), dor abdominal e perda de peso em indivíduos que estão entre a segunda e a quarta décadas de vida (mas qualquer idade pode ser afetada) seguidas de períodos de acalmia sintomática (remissão).

   Há, entretanto, pacientes que apresentam uma única crise na vida, em geral de comprometimento apenas do reto, para não serem mais molestados pela doença. Outros, por outro lado, parecem nunca sair de uma crise que se iniciou de forma particularmente grave e podem evoluir rapidamente para sangramento exsanguinante, perfuração ou dilatação (megacolo tóxico), que exigem colectomia de emergência. Cerca de 10% dos pacientes colíticos apresentam a doença em sua forma contínua crônica e nunca entram em fase de remissão.

   A disenteria da RCUI apresenta-se com mais de 6 deposições diárias de fezes mucopiossanguinolentas (comumente mais de 10 a 20). A diarreia, no entanto, pode estar ausente em alguns pacientes colíticos, como nos com proctite e proctossigmoidite discretas.

   A dor é um sintoma que denota gravidade na RCUI e não é comum. Dor em cólica grave pode acompanhar pacientes em crise de colite, mas também deve alertar para a presença de carcinoma associado. Dor abdominal constante com irradiação para o ombro num paciente em choque e distensão abdominal apontam para o diagnóstico de megacolo tóxico. Pacientes recebendo corticosteroides e que apresentem dor abdominal devem ser investigados para a possibilidade de perfuração intestinal.

   Pacientes com RCUI grave costumam apresentar anemia, febre, perda de peso, mal-estar, letargia, dispneia e edema maleolar.

   Não é comum a presença de complicações perianais na RCUI, mas fissuras anais e abscessos anais podem estar presentes, assim como erosões cutâneas na pele perianal devido à intensa atividade diarreica.

Manifestações Extraintestinais

   As principais manifestações extraintestinais descritas na RCUI são: hepáticas e biliares: esteatose, pericolangite, colangite esclerosante, câncer biliar; cutâneas: eritema nodoso, pioderma gangrenoso; baqueteamento digital; oftalmológicas: irite, epiesclerite, queratite superficial, blefarite, retinite, neurite retrobulbar; osteoarticulares: artrite colítica, espondilite anquilosante, sacroileíte, artrite reumatoide, osteoartrite, lesão discal, artrite psoriática; estomatológicas: estomatite aftosa, estomatite candidiásica; outras: trombose venosa profunda, anemia hemolítica, vasculite, coagulopatias, pericardite, doença pulmonar crônica, amiloidose secundária (menos frequentemente observada do que na DC), demência, retardo no crescimento pondoestatural e síndrome nefrótica.

Complicações

   A RCUI pode ser complicada por perfurações do colo, em geral para a cavidade livre, associadas ou não ao megacolo tóxico; pela presença de pseudopólipos, de estenose e de displasia. 

   O megacolo tóxico caracteriza-se por uma crise grave de colite com dilatação total ou segmentar do colo, incidindo mais no colo transverso. Os pacientes apresentam hipertermia > 38,5º C, taquicardia > 120 batimentos/min, leucocitose >10.500 células/mm³ e anemia, com um valor de Hb < 60% do normal. Apresentam adicionalmente desidratação, alterações mentais, distúrbios hidroeletrolíticos e hipotensão. Vários fatores desencadeantes do megacolo tóxico já foram descritos, tais como: uso de medicações antidiarreicas, uso de corticosteroides, enema opaco e hipocalemia. A dilatação cólica ocorre por paralisia do plexo mioentérico, que pode redundar do comprometimento transmural do processo inflamatório. É comum ocorrer perfuração associada, particularmente durante procedimentos cirúrgicos levados a efeito para correção da doença. 

   Os pseudopólipos, ou mais apropriadamente denominados pólipos inflamatórios, são uma complicação benigna da RCUI ativa e resultam de áreas de perda mucosa, sendo aglomerados de restos de mucosa normais ou acúmulos de tecido de granulação. Não encerram potencial maligno. Normalmente eles se distribuem difusamente no colo, mas preservam o reto. 

   Estenoses benignas devem-se a hipertrofia da muscular da mucosa, mas podem ser originadas de fibrose da submucosa e da camada muscular em doenças mais avançadas. As estenoses normalmente ocorrem em pacientes com RCUI de longa duração e podem estar associadas a displasia. 

   A displasia epitelial constitui-se num marcador histopatológico para pacientes que possuem risco de desenvolvimento de câncer. Apesar da displasia ser pontual e do carcinoma poder desenvolver-se na ausência dela ou remotamente situado em relação a ela, se um número suficiente de biópsias for retirado do reto e do colo, muitos casos de câncer do intestino grosso poderão ser evitados caso se depare com a presença de displasia grave, que será, então, adequadamente tratada.

RCUI fulminante aguda

   Caracteriza-se pela instalação rápida de disenteria, tenesmo, urgência, cólica abdominal e anorexia importante. Os pacientes desenvolvem rapidamente anemia, desidratação e choque, normalmente com hipoalbuminemia, hiponatremia e hipocalemia. Comumente apresentam-se febris, taquicárdicos, com dor abdominal, erosões perianais e sinais extraintestinais de RCUI, particularmente irite, pioderma gangrenoso, eritema nodoso e artrite. São pacientes que necessitam de cuidados intensivos.

 

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